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sexta-feira, 12 de março de 2010

Histórias de fusca*

Meu fusca ficou dois dias e meio no médico – para outros carros, no mecânico. Nesse tempo trivial, eu lembrei de pequenas histórias que só quem tem um fusca pode contar e acreditar.

Além de regular o motor e o freio e trocar a sanfona esquerda, o fusca precisava voltar a marcar a gasolina. Quando falei com o mecânico pra saber se estava tudo indo bem com o besouro, ele me disse que eu deveria trocar o relógio e que o orçamento sairia do previsto. Foi praticamente uma facada. Não por causa do valor material. Como não conseguiria um relógio igual, eu e o fusca fomos atingidos moralmente. Não dá. Deixa o marcador estragado.

Depois de ligar para o mecânico e pedir que mantivesse o relógio defeituoso vem à memória as lembranças das cerca de 20 vezes que fiquei sem gasolina – e não é exagero.

Na primeira vez, claro, fiquei desesperada porque o motor simplesmente desligou! Na segunda, sim, reconheci de cara a falta de gasolina. Aí, é só ligar pra alguém e pedir pra trazer um galão. Meu irmão sugeriu que me descem um de presente de aniversário, junto com um funil, pra que eu deixasse sempre dentro do fusca. Noutra vez, fiquei sem gasolina, às 22h, a dez metros do posto de gasolina. Dez horas da noite? É hora de fechamento. Corri e consegui ajuda do frentista.

Mas tive dias piores. Em uma cidade que não tem posto de gasolina 24 horas, não ter um bom marcador de gasolina pode ser problema seriíssimo. Eu descia o prolongamento da avenida 25 de julho para ir para casa quando resolvi pisar fundo (devia ter largado em ponto morto). Eu acabei com a gasolina. Daí, tentei ir até minha casa em ponto morto, mesmo sabendo que enfrentaria um quebra-mola.

Eram 3h, estava a uns 500 metros da minha casa, em frente a uma fábrica de móveis, empurrando o fusca pro acostamento. Eu e meu notebook dentro do fusca no acostamento, às 3h da manhã. Primeira ligação: o celular encontra-se desligado. Segunda ligação:

- Mãe! Vem rápido aqui na frente da Florense, com uma corda, pra me buscar que eu fiquei sem gasolina.

Poucos minutos depois, chega a Dobló.

- Trouxe a corda?
- Não! Deixa o fusca aí e vamos pra casa comigo!
- Eu não vou deixar o fuca aqui!

Segui até a fábrica. Encontro os vigilantes noturnos.

- Vocês têm uma corda pra emprestar!?

Depois de ouvirem, com sorrisos tímidos, uma boa discussão entre mãe e filha, chega um prestativo com a corda e segue até os carros para fazer o favor completo.

O fusca foi pra casa. Não entrou na garagem. Mas ficou protegido na frente de casa.

Tudo isso é pra dizer que quem sai com carro zero logo de cara, não vai ter tão cedo umas histórias como essa pra contar.

*Publicado originalmente em 28/01/09 no meu antigo blog.

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