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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Fusquinha 1200cc

Como eu sempre digo: quem já teve um fusca tem uma história inusitada pra contar... A crônica a seguir foi publicada no jornal O Florense. Flávio Luís Ferrarini é um escritor admirável. Ele é natural de Nova Pádua e, ainda adolescente, mudou-se para Flores da Cunha, minha cidade linda, onde ele mora até hoje. Já me encantei com diversos textos dele, publicados no jornal ou nos livros. E fico deveras feliz por ele ter narrado este episódio sobre o seu besourinho.

Fusquinha 1200cc
Flávio Luís Ferrarini 
Imagem:

Agora, com o Brasil começando o ano de verdade, a rotina voltou ao normal com mais de 35 milhões de carros nas estradas e ruas das nossas cidades.

Os carros estão em toda parte. Os carros ocupam todos os espaços possíveis. Enchem as ruas, entopem as calçadas, empilham-se em viadutos, atapetam as estradas, escondem-se em estacionamentos subterrâneos.
O cigarro mata. O uísque mata. O sal mata. O sol mata. A maionese mata. E o carro? O carro mata sem dó nem piedade. O carro intoxica e mata. O carro ensurdece e enlouquece. O carro engarrafa milhões de pessoas. O carro azeda o humor e paciência de todo mundo.

O carro vicia. Talvez quase tanto quanto o crack. Milhões de pessoas não conseguem sair de casa sem ser a bordo do seu carro. Criam uma dependência química terrível. Há os que praticamente moram em seus carros tunados.

Se no início do século passado a velocidade média nas grandes cidades era de 30 quilômetros por hora, limitada pela velocidade máxima dos carros. Hoje em dia, com máquinas que chegam a 300 por hora, a velocidade média não passa dos mesmos 30 por hora.

O carro é desejo de consumo de quase todo mundo. Junto com o primeiro emprego vem o sonho do primeiro carro próprio. Não importa se com ele vem a prestação, a manutenção periódica, o IPVA, o seguro, a multa e a Bomba (de gasolina, é claro). Não importa se o carro é usado e precisa de alguém para segurar a porta fechada enquanto estiver andando. Não importa se precisa pedir licença ao caroneiro para trocar de marcha. Não importa se o carro parece uma batedeira de tanto que treme. Não importa se o carro muitas vezes só pega no tranco.

Não obstante isso tudo, todo mundo quer ter um carro e todo mundo tem uma história inesquecível sobre seu carro para contar. É evidente que também tenho a minha.

O meu primeiro carro foi um fusca 1200cc, ano 1962, cor branca. Brasileiro, original, simples, bonitinho e honesto. O meu primeiro carro nasceu quando eu tinha apenas um ano de idade. A aparência era bem espartana. Não tinha enfeite algum, mas era anêmico. O meu fusca não falava como o famoso Herbie de Se meu fusca falasse, apenas tossia e gemia. Além de tossir e gemer, fumava e batia lata. Não tinha forças para quase nada. Bastava botá-lo para enfrentar um aclive para que abrisse as pernas, tanto seja, as rodas. Punha toda a língua para fora e pedia água.

Com o meu fusquinha 1200cc precisei aprender, na marra, os rudimentos da mecânica; câmbio, alternador, carburador, distribuição, disco de freio, kit de embreagem, etecétera.

Com o meu fusquinha 1200cc, levei minha noiva para um tour pelos “Caminhos da Colônia”, mal cabendo em mim de tanto orgulho. Era o aniversário dela. Gastei o sábado inteiro para embonecá-lo. Banho, cera, escova, brilho e uma generosa dose de perfume. Cavalheiro, abri a porta e ajudei minha noiva a acomodar-se no banco do caroneiro. Tudo andava maravilhosamente bem, com o motor mostrando saúde razoável. De repente, o danado aprontou. Fez-me passar por um dos maiores vexames da minha vida. Ouvi um estrondo. Achava que algo havia caído do céu como um meteoro ou um destroço de satélite, quando fui verificar havia sido o motor que se desprendeu dos calços e foi-se para o chão da estrada de chão batido. Perdi o motor do fusquinha 1200cc e por muito pouco não perco também a noiva.

Minha história com o fusquinha 1200cc, na verdade, é o lado romântico do carro, um linitivo para o duro e estressante trânsito neste início de março.

5 comentários:

Anônimo disse...

Olá Shamila,
Fico agradecido e lisonjeado pela publicação da minha croniqueta sobre o meu inesquecível besourinho.
Abraço vasto...

Marcelo disse...

Olá,

Gostaria além de parabenizar pela crônica acima, ressaltar que o carro da gravura, é uma caricatura feita pelo Ararê do meu Sedan 1968, 1.300, que se chama Matilde, conforme está escritó na placa!

abs,

Marcelo Bressan
Brasília/DF

Anônimo disse...

Olá Shamila,

Além de parabenizá-la pela crônica acima, gostaria de ressaltar que o carro que ilustra-a é um caricatura feita pelo Ararê, de meu Sedan 1968, 1300, chamada Matilde!

Abs,

Marcelo Bressan
Brasília/DF

ஜ Shamila Carpeggiani ஜ disse...

Bacana! Também quero uma ilustra do meu fusca... Eu mesma fiz uma. Vou postar por aqui, mas não é bacana como essa!

Anônimo disse...

Quero ver!

Se quiser... procure o Ararê... mande uma foto para ele.

Ele transforma em caricatura o seu fusca, com direito a um poster!

Marcelo Bressan.